ATA DA QÜINQUAGÉSIMA OITAVA SESSÃO SOLENE DA
TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM
09-12-2003.
Aos nove dias do mês de dezembro de dois mil e três
reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal
de Porto Alegre. Às quinze horas e vinte e dois minutos, constatada a
existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da
presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto
Alegre ao Senhor Ivan Antonio Izquierdo, nos termos do Projeto de Lei do
Legislativo nº 148/03 (Processo nº 2931/03), de autoria do Vereador Darci
Campani. Compuseram a MESA: o Vereador João Antonio Dib, Presidente da Câmara
Municipal de Porto Alegre; a Capitã do Quadro Feminino de Oficiais Maria
Aparecida Pacheco, representando o V Comando Aéreo Regional – COMAR; o Senhor
Ivan Antonio Izquierdo, Homenageado; o Vereador Darci Campani, na ocasião,
Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em
pé, ouvirem a execução do Hino Nacional, registrou a presença do Senhor Geraldo
Stédile, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre e, em
continuidade, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O
Vereador Darci Campani, como proponente da solenidade e em nome das Bancadas do
PT, PMDB, PPS e PTB, discorreu sobre a trajetória pessoal e profissional do
Homenageado, afirmando que o Senhor Ivan Antonio Izquierdo é um exemplo de
intelectual participativo e voltado para a construção de uma sociedade mais
centrada na solidariedade e na busca da dignidade humana. O Vereador Carlos
Alberto Garcia, em nome das Bancadas do PSB e do PP, analisou o significado do
Título hoje entregue, como demonstração do reconhecimento da comunidade pelo trabalho
realizado pelo Senhor Ivan Antonio Izquierdo, ressaltando a atuação do
Homenageado em prol do crescimento científico e tecnológico de Porto Alegre. O
Vereador Cláudio Sebenelo, em nome da Bancada do PSDB, saudando o Homenageado,
teceu considerações quanto à importância da capacidade da descoberta e da percepção
para o desenvolvimento do conhecimento, comentando o trabalho realizado pelo
Senhor Ivan Antonio Izquierdo no estudo dos processos inerentes à memória
humana. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou o Vereador Darci Campani
e os netos do Homenageado, Francisco Izquierdo e Maria Eduarda Izquierdo, para
procederem à entrega do Diploma e da Medalha referentes ao Título Honorífico de
Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Ivan Antonio Izquierdo, concedendo a palavra
a Sua Senhoria, que agradeceu o Título recebido. Após, o Senhor Presidente
convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e,
nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados
os trabalhos às dezesseis horas e quatorze minutos, convidando a todos para a
Sessão Solene a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelos
Vereadores João Antonio Dib e secretariados pelo Vereador Darci Campani, como
Secretário "ad hoc". Do que eu, Darci Campani, Secretário "ad
hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada,
será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Estão abertos os trabalhos da presente
Sessão Solene, destinada a homenagear o ilustre professor Ivan Antonio
Izquierdo. Compõem a Mesa o nosso homenageado e a Exma. representante do 5º
COMAR, Capitã do Quadro Feminino de Oficiais Maria Aparecida Pacheco.
Cumprimento
o Ver. Darci Campani que é o proponente da homenagem, Sras. Vereadoras, Srs.
Vereadores, demais autoridades, senhores e senhoras.
Convidamos
todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.
(Ouve-se
o Hino Nacional.)
Registramos
a presença do Dr. Geraldo Stédile, Presidente do Conselho de Cidadãos
Honorários de Porto Alegre. O nosso homenageado é uma figura científica de
renome nacional e internacional; o mundo científico o conhece bem. Sempre ouço
dizer que o tempo passa, mas não é verdade, Dr. Izquierdo, nós é que passamos
pelo tempo, mas marcamos a nossa passagem no tempo, de uma ou de outra forma. O
senhor marcou, e continuará marcando, por muito tempo, de forma maravilhosa, a
sua passagem pelo tempo, e vai fazer com que esta Cidade se orgulhe ainda muito
mais agora que vai passar a ser Cidadão de Porto Alegre, porque todos nós
sabemos que o senhor vai continuar trabalhando muito, como sempre fez até hoje,
pela sua ciência em primeiro lugar. É claro que, a sua ciência sendo
reconhecida, a nossa Cidade, o nosso Estado e o nosso País também o serão.
Não
é a este Presidente que cabe falar em nome da Casa, e, sim, aos Vereadores que
compõem o nosso Plenário.
Neste
momento, concedo a palavra ao Ver. Darci Campani, proponente desta Sessão e que
falará também pelas Bancadas do PT, PTB, PMDB e do PPS.
O SR. DARCI CAMPANI: Caro Presidente desta Casa, Ver. João
Dib, nosso homenageado do dia, Dr. Ivan Antonio Izquierdo, demais colegas e
amigos, Vereadores aqui presentes representando as Bancadas desta Casa, é com
muita honra que a gente inicia a nossa intervenção, pois como Vereador do
Partido dos Trabalhadores é a primeira vez que dou, através de Projeto de Lei
que esta Casa acolheu, o Título de Cidadão para um membro de nossa sociedade.
Então, essa é minha primeira experiência, enquanto Vereador, de falar como
proponente de um projeto que dá o Título de Cidadão para a Cidade de Porto
Alegre. Experiência essa que, realmente, nos leva a pensar muito em qual é o
conceito que a gente tem de cidadão daquela Cidade no qual nascemos, na qual
nos criamos. Desde 1957, vivo aqui nesta Cidade, me criei aqui nesta Cidade, e
quem é que eu gostaria de, realmente, nomear
como Cidadão desta minha Cidade?
No
colega Ivan Izquierdo, a gente encontrou aquele modelo de pesquisador, aquele
modelo de ser humano que se assemelhava muito a quem nós entendemos que mereça
o Título de Cidadão da cidade de Porto Alegre, não só pela sua pesquisa, mas
também pela sua obra literária, demonstrando um humanismo característico de
quem se preocupa com as coisas do ser humano. Só quem pesquisa o ser humano
sabe a importância da construção de uma nova visão do ser humano que está neste
planeta para fazer a sua grande obra, e cada vez melhor.
Doutor
Ivan Izquierdo, para que fique registrado na Casa, é Professor e Doutor em
Medicina pela Universidade de Buenos Aires; lecionou Farmacologia na
Universidade Nacional de Córdoba, Argentina, de 1966 a 1973 - essas datas a
gente tem de falar porque faz parte da memória, temos de citar, apesar de serem
muitas datas -; teve uma boa atividade, também, na Fisiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, de
1973 a 1975; na Fisiologia da Escola Paulista de Medicina, de 1975 a 1978; e no
nosso Departamento – não é Professor Diogo e demais colegas da Bioquímica? - de
Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, desde 1978, e ainda
atuante.
Atualmente
Professor Titular, aposentado já, mas, conforme conversávamos antes, hoje com
mais atividades do que quando do período da atividade formal; Fundador e Chefe
do Centro de Memória; Assessor e Consultor de inúmeros organismos científicos
brasileiros, e de 11 outros países; Membro do Conselho Editorial de 11
revistas, também, todas de nível internacional, e Membro Titular de várias
Academias; Professor Honorário da Universidade de Buenos Aires, desde 1991.
Agraciado
com vários prêmios, inclusive por esta Casa, no ano passado, prêmio proposto
pelo Ver. Raul Carrion e concedido por esta Casa; Prêmio em Ciência Médica
Básica da Academia de Ciências do Terceiro Mundo, em 1995; e a Ordem do Mérito
Científico na Categoria da Grã-Cruz, outorgada pelo Presidente da República, em
1998. Orientador de 45 teses em nível de Mestrado, 47 teses em Doutorado e 486
trabalhos científicos. É o cientista brasileiro mais citado em todos os tempos,
com citações registradas pelo Instituto de Informação Científica dos Estados
Unidos.
Além
do brilhantismo do seu trabalho junto à pesquisa, brilhantismo que é
característica da nossa Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde temos
um corpo docente dos mais brilhantes da nossa sociedade porto-alegrense e do
qual nos orgulha muito aqui representar uma parcela desta população, uma
parcela dos que tem acesso à Universidade Federal pública, com a qualidade que
a gente consegue, com muita luta e com muita garra, manter e com figuras da
qualidade do Prof. Izquierdo, ponteando pesquisas, que a gente sabe, mantidas
basicamente pela determinação dos nossos pesquisadores da Universidade pública,
mantidas pela gana que nós temos de aumentar o conhecimento, de passar esse
conhecimento adiante e de cada vez termos profissionais lançados no mercado que
tenham uma maior qualidade técnica-científica. Essa é a essência da existência
de personalidades na Universidade Federal do Rio Grande do Sul como a do nosso
Professor Dr. Ivan Izquierdo.
Mais
do que um simples pesquisador, no campo literário, na sua última incursão encontramos
um humanismo muito grande e as conclusões que são as do seu trabalho técnico, do seu trabalho teórico de construção de
um ser humano, de construção de uma consciência, de construção da inteligência,
da visão do ser humano enquanto um ser inteligente e, na memória, um estudo
desenvolvido, captou a essência do ser humano. Não há diferença maior do ser
humano em relação aos animais do que o fato de termos a capacidade de aprender
e de transmitir esse aprendizado para os nossos similares. E aí está a essência
da espécie humana: transmitir conhecimento e ter memória desses conhecimentos.
O conhecimento básico do mecanismo das condições da composição de como se dá a
transferência de conhecimento e o guardar desse conhecimento é muito precioso
para a espécie humana.
Estávamos
conversando, um pouco antes de entrarmos no plenário, sobre as discussões por
que estou passando na Faculdade de Educação, porque voltei a estudar na
Faculdade e, realmente, nos impressiona bastante a diferença de quem fez uma
faculdade há 25 anos e de quem faz uma faculdade hoje. A diferença do nível
teórico, de conceitos, que sabemos que, há 25 anos, eram tidos como modernos, como
algo novo, algo que estava sendo recém-descoberto e que, hoje, pela capacidade
que tiveram pesquisadores como o Dr. Ivan, de trazer para a faculdade esse
conhecimento, de aprofundá-lo, qualificá-lo e transformá-lo no nosso dia-a-dia.
Hoje, os nossos estudantes de graduação saem com esse nível internacional de
conhecimento, um nível reconhecido, qualquer universitário nosso.
Eu,
como professor do Departamento de Engenharia Mecânica, posso dizer que estamos
mandando vários alunos para a Itália, Alemanha e França para também fazerem os
seus estudos, ainda, de graduação e, constantemente, estamos mandando-os para
pós-graduação, também. Então, estamos formando, na universidade, alunos de
Primeiro Mundo, alunos de uma universidade pública que, há muito, luta para
conseguir se manter. E muito desse capital acumulado na universidade pública se
dá devido à obra de pessoas como o Dr. Ivan Izquierdo, ao qual eu parabenizo.
Não
vou falar algumas coisas que a gente estava conversando, porque quero-lhe
passar a palavra logo depois - o Presidente lhe passará -, porque acho que a
emoção que o senhor me transmitiu ali, de receber este Título, vale mais do que
as palavras que eu posso-lhe passar aqui e passar aos nossos amigos que estão
presentes aqui conosco.
Então,
agradeço aos demais Vereadores que votaram a favor, deste Título, pois este é
um Projeto da Câmara de Porto Alegre proposto por mim, mas toda a Câmara acolheu a proposta. E quero
desejar que esse novo Cidadão da cidade de Porto Alegre, naturalizado, ainda
chamado para a cidade de Porto Alegre, um novo amante da cidade de Porto
Alegre, se sinta cada vez mais na Cidade que ele escolheu para viver como a sua
Cidade. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Carlos Alberto Garcia está com a
palavra pelo seu Partido, o PSB e, também, pelo Partido Progressista.
O SR. CARLOS ALBERTO GARCIA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Esta Casa, pelo segundo ano
consecutivo, faz uma homenagem ao Professor Ivan Antonio Izquierdo. Mas, hoje,
é uma homenagem diferenciada: é o reconhecimento da Cidade - que tem um milhão
e quatrocentos mil habitantes -, a qual resolveu selecionar aquilo que é o
maior Título desta Casa - que é o Título de Cidadão -, e de maneira
gratificante foi escolhido por unanimidade, mostrando o trabalho, o
reconhecimento da Cidade para essa figura ilustre, pesquisador, cientista.
Conforme
o início da fala do Ver. João Antonio Dib, a pesquisa e a ciência não têm
fronteiras - a sua obra, hoje, é do mundo. O senhor, ao longo da sua jornada de
trabalho em prol da ciência, sabe melhor do que eu que é parâmetro para
inúmeros jovens. E isso é muito gratificante, porque, a cada dia que passa, a
ciência busca experimentos novos – e o senhor trata com a questão da qualidade
de vida.
O
nosso País ainda investe pouco em tecnologia e na área da ciência - menos de 1%
-, e está falando alguém cujo Ministro da Ciência e Tecnologia é do mesmo
Partido, o Sr. Roberto Amaral, mas nós sabemos que um País, que pretende ser
grande, tem de investir, cada vez mais, na educação, e, principalmente, em
ciência e tecnologia, porque é com esses dois fatores que se faz
desenvolvimento, e o senhor tem contribuído – e muito – para a nossa Cidade,
para o nosso Estado e para o mundo, e, conforme eu disse no início, ciência não
tem fronteira.
Uma
coisa que me gratifica muito em Porto Alegre é que o senhor não é daqui, mas
adotou a nossa Cidade, escolheu-a, e poderia ter escolhido inúmeras cidades,
porque o senhor transitou, trabalhou em vários locais. E assim como o senhor
teve essa empatia e esse amor por Porto Alegre, hoje é um momento diferenciado
em que Porto Alegre diz, também, do amor que ela tem pelo senhor. Então, quando
há um amor recíproco é um perfeito casamento. E é isso que, hoje, esta Câmara
faz aqui: este casamento do Cidadão, Professor, Doutor, Cientista e Pesquisador
Ivan Antonio Izquierdo com a cidade de Porto Alegre. O que nós esperamos é que,
agora, o senhor entrando nesse rol seleto dos cidadãos de Porto Alegre - eu
vejo aqui nosso Presidente Dr. Geraldo Stédile -, esta Casa, a Cidade, tenha
mais um pensador. Uma pessoa ilustre que vai colaborar de perto, porque no
momento em que o senhor é Cidadão de Porto Alegre me autoriza, cada vez mais,
quando eu tiver alguma dúvida, a consultá-lo, e eu sei que o senhor vai-me
receber com o maior agrado. Portanto, em nome do nosso Partido e do Partido
Progressista do Ver. João Antonio Dib, Ver. Pedro Américo Leal, Ver. João
Carlos Nedel e Ver. Beto Moesch, gostaríamos de saudá-lo e dizer como é
gratificante o reconhecimento da Cidade para aquelas pessoas que escolhem por
livre iniciativa onde morar e fazer sua vida, seu habitat. Então, volto a
dizer, este casamento é um casamento perfeito, esperamos que cada vez mais o
senhor possa denotar esse amor pela nossa Cidade que hoje, de maneira pública e
notória diz: muito obrigado Professor Ivan Izquierdo, continue produzindo cada
vez mais a sua obra. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O
Ver. Cláudio Sebenelo está com a palavra e falará em nome do PSDB.
O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Professor Izquierdo, eu sou portador de
um abraço, neste instante, do apresentador da Rádio Gaúcha Lasier Martins. Eu
pedi licença para interromper uma entrevista dizendo que o saudaria agora, no
microfone. Excelentíssimo Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre
Ver. João Antonio Dib, Excelentíssima Sra. Representante do 5º COMAR, Capitã do
Quadro Feminino de Oficiais Maria Aparecida Pacheco. Maria Aparecida Pacheco,
não perca da sua memória este momento, a senhora, como Capitã, nesta
elegantíssima farda - para a mulher fica bonito -, está tendo o privilégio de
conviver, mesmo que por poucos momentos, com uma das maiores cabeças dos nossos
tempos, do Brasil, da Argentina, do mundo, um cidadão do mundo, Professor Ivan
Izquierdo, a quem eu saúdo. Eu já vi o professor na televisão, já ouvi no
rádio, já vi a fotografia dele. Professor, eu nunca tive convívio com o senhor,
eu sou seu colega, eu sou médico também, e eu queria ocupar este microfone para
dizer para as pessoas que têm hoje o privilégio de estar aqui com o Professor
Ivan Izquierdo, na nossa Câmara Municipal, onde eu também encontro o Professor
Antunes, o Professor Trevisan, e tantos outros amigos seus, que eu ainda tenho,
nos meus ouvidos, uma música maravilhosa do Vangelis, que é a trilha sonora de
um filme chamado “A Descoberta do Paraíso”, em que Gerard Depardieu faz o papel
de Cristóvão Colombo. O filme começa com ele brincando com seu filho, na beira
de um penhasco, na frente do oceano, quando pega um ovo e diz: “É redondo.” E a
silhueta do mar se arredondando e o barco desaparecendo no horizonte, e ele
repete: “É redondo.” Mas ele não podia dizer publicamente por causa da
Inquisição.
O
que mais fascina no ser humano é a descoberta, é o eureca, a eurística de todas
as ciências. Nós, seres humanos, englobamos esse conhecimento acumulado em um
acervo fantástico que, a toda hora, e a todo dia, lançamos mão no nosso
cotidiano, especialmente, dessas descobertas que marcam a modernidade. E o
conceito de modernidade é um conceito um pouco mais amplo do que nós pensamos,
que vai também da idéia à materialização dessa idéia, pelo conhecimento e, por
fim, na última ponta, ao consumo. A esse conjunto de processos de formação nós
chamamos de modernidade, e aos conjuntos de modernidade nós chamamos de
conhecimento. Pois é exatamente a questão do conhecimento que revoluciona pela
descoberta, e, essa descoberta pode ser processada em uma fração de segundos.
Em uma inspiração de Alexander Fleming ao descobrir - quando caiu uma cultura
de bactéria dentro do mofo do pão -, que ali pudesse ter alguma coisa que
matava aquelas bactérias - Alexander Fleming descobre o antibiótico, por
casualidade. E, instantaneamente ele descreve como uma coisa que estalou, mas
que poderia ter sido um processo de longa pesquisa e um trabalho, às vezes, de
uma vida inteira em busca de uma descoberta.
Albert Einstein contava, sempre com muito humor, com muita graça, que o
chamavam de gênio - ele era um gênio da Física -, mas que, ao mesmo tempo, ele
levantava às 6 horas da manhã e parava de trabalhar à meia-noite, todos os dias
- trabalhava loucamente. Pensou muito, e as conclusões a que ele chegava sobre
esse desafio, que era juntar espaço e tempo na Teoria da Relatividade, ele
levou uma vida inteira pesquisando; não deixava também da sua genialidade.
Então, essa questão da descoberta tem esse gosto fantástico do novo, e tem uma
díade de grandes noções que só o ser humano tem: do esquecimento e da memória.
Como diz Chico Buarque, a saudade é pior que o esquecimento. Mas não é a
memória individual, que muitas vezes nos falha, que muitas vezes nós
esquecemos, não; é a memória coletiva. E nós não temos memória porque nós não
sabíamos, por muitos anos, o que era a memória. Nós sabíamos que ela existia.
O
trabalho científico deste homem que busca numa vida inteira o entendimento da
memória está conosco aqui, Ver. Darci Campani, que faz esta homenagem como uma
inspiração desta Casa e, principalmente, como um reconhecimento a uma das
pessoas mais invejadas na Universidade do Rio Grande do Sul e na cidade de
Porto Alegre. E nós temos inveja do homenageado. A inveja, também, pelo senhor
ter nascido numa pátria monumental que é a Argentina, de Buenos Aires, do
tango, do Piazola, dessa magia do Rio da Prata e das grandes relações de
vizinhança – magnífica - que nos faz, como turistas, na Argentina,
deliciarmo-nos com as maravilhas do seu país.
E,
ao mesmo tempo, o senhor, um cidadão do mundo, ser também um cidadão
brasileiro. Um brasileiro que tem esta contribuição para a humanidade. Esse
desafio da descoberta, essa condução da forma de pensar. E nós temos um dos
maiores filósofos de todos os tempos no Rio Grande do Sul, que era um
compositor humilde, um amanuense da Faculdade de Direito, chamado Lupicínio
Rodrigues, que dizia que “pensar parece uma coisa à toa, mas como é que a gente
voa quando começa a pensar?”. A busca do pensamento envolve a memória e o
esquecimento. Para memorizar alguma
coisa, primeiro temos que esquecê-la, nós temos, nessa busca, a felicidade
imensa, monumental, das descobertas. Não das descobertas da América e do
Brasil, que passaram para a História, que foram gravadas, mas das pequenas descobertas
do dia-a-dia, como nós políticos temos a felicidade de descobrir pessoas; a
felicidade de, às vezes, começarmos a transformar o motorista que nos leva todo
o dia em casa, o profissional que nos ajuda, em um confidente, em um amigo.
Descobrir muitas vezes as verdades que a sociedade nos oferece e que passaram
muitos anos sem nós enxergarmos, ou melhor, sem nós conseguirmos ver; nós
enxergamos, mas muitas vezes não vemos. E, por fim, essa descoberta fantástica,
anônima, dentro de uma Universidade, o pesquisador que dá a sua alma pela
filigrana de uma mínima descoberta, que encaixa perfeitamente numa cadeia de
pensamentos que foram buscadas durante tanto tempo e que não eram conseguidas,
e se fecha o raciocínio. E depois, esse conhecimento, Prof. Izquierdo, é
trazido para a sociedade e essa relação da sociedade com a universidade, com o
conhecimento, com o saber, com a pesquisa, amadurece as relações sociais e o
ser humano melhora com isso. A difusão na intimidade do tecido social,
exatamente desses conhecimentos, que, aparentemente, são pequenos, e as grandes
frases são feitas de pequenos momentos, e os livros são compostos de pequenas
frases, que aos poucos, juntos, vão formando um conceito na sociedade! Aos
poucos essa sociedade vai mudando em função do amadurecimento do ser humano, do
seu conhecimento, do seu aperfeiçoamento. Esse aperfeiçoamento que nós tanto
queremos nas relações sociais e que nós, conversando um pouco antes desta
cerimônia com o Prof. Antunes, dizíamos que no ano de 2001, 2002, 2003, no
século XXI, nós merecíamos, já como espécie homini
a não mais presenciar guerras, a não mais presenciar hecatombes fabricadas
pelo próprio homem. A sua pesquisa, Professor Ivan, melhora as relações
sociais. A sua pesquisa engrandece o ser humano. E, hoje, aquilo que eu dizia
na primeira frase, que ainda soavam os acordes do Vangelis em descoberta do
paraíso, agora parece que aumentaram o dial do volume do rádio, estou ouvindo o
Vangelis nesta descoberta fantástica que nós já fizemos há muito tempo e que a
cidade de Porto Alegre, hoje, faz essa descoberta e lhe passa a Certidão e a
Medalha. O senhor é Cidadão de Porto Alegre porque esta Câmara teve a
felicidade, por meio do Ver. Darci Campani, do nosso Engenheiro Agrônomo e
Vereador, de descobrir o Professor Ivan Izquierdo para a sociedade de Porto
Alegre, para sempre, como um argentino e brasileiro que nos orgulha, que tem
uma produção monumental do ponto de vista científico, mas, principalmente, o
senhor pode ficar certo de que hoje as relações humanas são muito melhores,
certamente, também pela sua contribuição. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): É chegado o momento da entrega do Diploma
e da Medalha. Convidamos o Ver. Darci Campani e também os netos do nosso Professor
homenageado, Francisco Izquierdo e a Maria Eduarda Izquierdo, para que,
juntamente com o Vereador, façam a entrega da Medalha e do Título.
(Procede-se
à entrega do Título e da Medalha.) (Palmas.)
Agora
é chegado o grande momento do nosso homenageado, o Professor – e Professor é o
título mais importante do mundo – o Professor Ivan Antonio Izquierdo está com a
palavra.
O SR. IVAN ANTONIO IZQUIERDO: Sr. Presidente da Câmara Municipal
Vereador João Antonio Dib, Ver. Darci Campani, Ver. Carlos Alberto Garcia, Ver.
Cláudio Sebenelo, demais Vereadores, amigos e concidadãos de Porto Alegre, eu
não vou falar quase nada, vou falar muito pouco, porque a ocasião é muito
grande, e eu acho que quando a ocasião é grande é bom que a palavra fique no
tamanho que tem, seja quantas forem as palavras que eu for falar vão ser sempre
pequenas ao lado disto que está acontecendo, do que acaba de acontecer, do que
representa para mim.
Isto,
efetivamente, como falou o Ver. Sebenelo, é um casamento. Agora, não é qualquer
casamento. É um casamento que surge de um longo convívio no qual houve muitas
situações de amor; o amor, na verdade, marcou esse longo convívio. Esse longo
convívio deu muitos filhos, muitos netos, não só carnais, senão científicos,
humanísticos e de outro tipo. E é um longo convívio com a minha Cidade que me
deu tantos amigos, muitos dos quais estão representados, hoje, aqui. Destes
amigos têm dois que eu quero agradecer muito particularmente. Uma que é um
pouco mais do que amiga, é minha mulher. Minha mulher é de Porto Alegre, e é,
em última instância, a razão final pelo qual eu vim parar em Porto Alegre; se
não a tivesse conhecido, não teria nem vindo aqui. E não só vim, mas fiquei. E
houve este longo convívio com a principal rival da Ivone, que é a cidade de
Porto Alegre, no meu coração. O outro amigo é um filho, de certa forma, porque
depois o filho virou irmão, são essas coisas que o incesto diário da vida
sentimental dá. Esse amigo meu é o Professor Diogo Souza.
A razão pela qual eu estou
em Porto Alegre, hoje, realmente, surgiu da noite em que eu fiz 40 anos. Eu
estava morando em São Paulo e na época, não via nenhuma razão para ir embora de
São Paulo, fora o trânsito, a poluição, essas coisas, mas eu estava muito bem
lá com a minha mulher, com o meu filho, o meu trabalho e tudo. Mas, um dia fiz
40 anos, e teve uma festa surpresa lá em casa. Foi aparecendo gente, o último
que apareceu foi o Professor Diogo. E aí começamos a falar de mil coisas, e
também foi o último que ficou. No final, quando todos foram embora, ele ficou
comigo e com a Ivone, as crianças foram dormir. As crianças são os pais desses
dois que vocês viram aqui. Bom, aí o Diogo me pergunta: “Escuta, você já morou
– falamos você, estávamos em São Paulo, falávamos o dialeto local - em muitas cidades:
Los Angeles, Buenos Aires, nasceu e morou tantos anos em Buenos Aires – Diogo
sabia que eu amo Buenos Aires também, sou realmente promíscuo em matéria de
cidades –, Córdoba, São Paulo, Porto Alegre, e qual é a que você mais gosta”? E
eu disse: “Olha, a que mais gosto, realmente, somando e tirando uma coisa e
outra, e a que mais gostaria de voltar é Porto Alegre”. Bom, aí Diogo articulou
com o Diretor do Instituto de Biociências, à época, Prof. Tuiskon Dick, a minha
vinda, no caso, era de volta para Porto Alegre, e daqui não saí mais. Só saio
para voltar; saio um pouco, porque dá uma saudadezinha gostosa da cidade de
origem da gente, a qual sempre queremos voltar.
Outro
dia estava num simpósio com vários colegas, e um deles, pessoa que aprecio
muito, que foi Presidente do CNPq, comentei com ele sobre o Título de Cidadão
Honorário de Porto Alegre, e isso para mim é muito importante, talvez, o
Diploma mais importante que vou receber na vida. Já recebi muitos outros,
talvez receba alguns mais, não sei, mas este é o mais importante, porque é o que mais toca o meu coração, e o que
mais se afina com a realidade da minha vida. É o casamento, sim, depois de um convívio,
um relacionamento muito longo e muito rico em amores. E ele me disse: “Claro
que isso é importante, imagino que seja muito importante, porque a gente mora
num país, num continente, num hemisfério, pertence a uma civilização, às vezes,
nasce num continente e muda para outro, enfim, mora no planeta Terra, pertence
ao sistema solar, mas no fundo de tudo, onde a gente realmente vive, onde a
gente mora com o coração - isso quer dizer viver -, é no seu município, e tu és
mais de Porto Alegre do que de qualquer outro lugar do mundo, é evidente isso.”
Essa
é a verdade, e é o que está sendo consagrado hoje com este Diploma de
casamento, do qual não farei cópias autenticadas.
Quero
agradecer muito a todos vocês, ao Ver. Campani pela iniciativa, ao Presidente
da Câmara por ter-me recebido tão bem, a todos vocês por terem causado a minha
cidadania de Porto Alegre, amigos, família, colegas, todos. Muito obrigado a
todos e vou ver se continuamos concidadanizando-nos porto-alegrenses pelo resto
da nossa vida, e que essa vida seja boa e longa. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Nos
encaminhamos para o término desta muito justa homenagem, onde esta figura, que
tanto engrandece Porto Alegre e a nossa Universidade, recebeu o Título de
Cidadão de Porto Alegre e que demonstrou em seu pronunciamento o carinho por
Porto Alegre, mas agora ele vai fazer muito mais esforço, porque agora ele
disse que faz parte do conjunto.
Agradecemos
a presença do nosso ilustre homenageado; da Capitã Maria Aparecida Pacheco; dos
demais Vereadores que estiveram aqui; dos netinhos, que não podem esquecer o
vovô querido, o Francisco e a Maria Eduarda, e é sempre bom ter um exemplo pela
frente; a iniciativa do Ver. Darci Campani. Também quero agradecer a todos e a
cada um das senhoras e dos senhores.
Neste
momento convidamos todos os presentes a ouvirmos o Hino Rio-Grandense.
(Ouve-se
o Hino Rio-Grandense.)
Agradecemos
a presença de todos e damos por encerrada a presente Sessão Solene.
(Encerra-se
a Sessão às 16h14min.)
* * * * *